cabecalho do site para ser visualizado computador cabecalho do site para ser visualizado no celular
Pesquisar no site do Alcscens

Notícias


26/09/2012

Agronegócio e pobreza relativa crescem juntos no interior paulista, diz estudo

Cínthia Leone

  • Tamanho da Fonte:
  • Diminuir fonte
  • Fonte normal
  • Aumentar fonte

Cidades do Estado de São Paulo em que houve elevada expansão agrícola também assistiram a um forte crescimento da pobreza relativa, que é a incapacidade do cidadão de viver de acordo com o custo de vida local. É o que indica uma pesquisa da Unesp de Presidente Prudente que criou um conjunto de 50 mapas intitulado São Paulo Agrário, com dados de 1990 a 2008.

Veja o mapa desta página ampliado e com legenda no endereço http://migre.me/aQAjK

O mapeamento apontou ainda concentração de casos de violência no campo em áreas onde houve essa expansão (confira aqui e aqui os mapas que abordam esta questão detalhadamente). O estudo fez também uma análise da cobertura da imprensa escrita sobre o tema nesse período, indicando um papel decisivo dos jornais na desqualificação dos movimentos agrários populares.

O autor é Tiago Egídio Avanço Cubas, que teve orientação do professor Clifford Andrew Welch. A dissertação de mestrado foi defendida em agosto e contou com recursos do CNPq. Parte do trabalho foi iniciado já na graduação, com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). O trabalho reuniu dados sobre concentração de renda; pobreza relativa dos municípios paulistas; produção agrícola; expansão das culturas da cana, soja e laranja, além da pecuária; ocupação de terras; e mortes por conflitos no campo.

Na série de mapas, as regiões que se destacaram tanto no aquecimento da atividade agrícola como também no aumento da violência e da marginalização econômica são o Oeste e o Nordeste paulistas. “Isso reitera o fato de que esse modo de produção leva aos municípios uma prosperidade concentrada nas mãos de poucos, enquanto gera um número cada vez maior de excluídos”, diz Cubas. “A pobreza é interessante para esses ruralistas porque quando precisam de mão-de-obra ela está mais disponível e barata”, afirma Clifford.

Ribeirão Preto, considerada a capital do agronegócio brasileiro, é citada por Cubas como exemplo desse fenômeno. Dados de 2011 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que a cidade tem 26 favelas, quase todas originadas nas duas últimas décadas. “O município viveu de 1990 a 2008 um crescimento desordenado impulsionado pelo investimento rural e que levou ao surgimento e intensificação do número de moradias precárias”, diz o pesquisador.

Assistencialismo

Cubas afirma que os ruralistas deixaram de lado a manutenção improdutiva das propriedades na espera de valorização para, hoje, buscar a alta produtividade. Ao mesmo tempo, conforme explica, os movimentos populares no campo também sofisticaram suas reivindicações. “Eles não discutem mais a questão da terra improdutiva, mas o custo humano dessa produtividade elevada e o não cumprimento da função social da terra prevista em lei”, diz o pesquisador, citando os impactos ambientais da monocultura extensiva.

Outro destaque da dissertação de Cubas é a atuação da agricultura familiar na garantia da segurança e soberania alimentar. “A produção de bens pouco lucrativos, mas tradicionais na mesa do brasileiro, como feijão e mandioca, é garantida em grande parte pelos pequenos produtores, que hoje lutam para sobreviver.”

Para ele, as medidas governamentais para esses camponeses se resumem a ações assistencialistas. “É necessário políticas emancipatórias para o setor.”

Retratos do campo

Para analisar a forma como a mídia aborda o tema, o estudioso utilizou um acervo da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) com mais de 30 mil recortes de jornal. O pesquisador se ateve às publicações O Imparcial, Oeste Notícias, O Estado de São Paulo e Folha de S. Paulo.

“Não houve variação significativa em abordagem, espaço dado para esse tema e escolha de imagens”, explica Cubas. “Fica claro o quanto as relações políticas estabelecidas entre esses veículos e a elite agrária influenciam na abordagem estereotipada dos conflitos no campo.”

Sua investigação se concentrou em três episódios relacionados à disputa de terras no Pontal do Paranapanema. O primeiro deles é o caso da Fazenda São Domingos, na cidade de Sandovalina, no Pontal do Paranapanema, quando, em 1995, sete membros do MST foram baleados durante ocupação da propriedade. “A cobertura da imprensa se preocupou em criminalizar as lideranças camponesas, com grande repercussão na época”, diz Cubas. Atualmente, a propriedade está em fase final de desapropriação pelo INCRA por ter sido considerada grilada e devoluta no Supremo Tribunal Federal.

O segundo episódio é de 2002 e trata-se do atentado a José Rainha Jr., então líder do MST, durante invasão da Fazenda Santa Rita, também no Pontal. Atualmente, Rainha Júnior responde a diferentes acusações criminais, incluindo a de chefiar um esquema de desvio de recursos da reforma agrária deflagrada na Operação Desfalque, da Polícia Federal. E esse fato teve impacto decisivo no terceiro período analisado na pesquisa: a descentralização da luta camponesa no Pontal, a partir de 2006, exatamente quando Rainha Jr. é expulso do MST Nacional. A imprensa, segundo o pesquisador, procura retratar esse período como desarticulação e enfraquecimento dos movimentos populares no campo.

Entre os pontos que chamam a atenção do pesquisador nas três situações verificadas está o fato de os jornais quase nunca explicarem os processos ou reivindicações no caso de ocupações de fazendas e protestos. “A mídia também costuma personificar a luta, o que tem servido, inclusive, de prova em processos judiciais contra pessoas que foram identificadas nas


Fonte:Unesp



comments powered by Disqus
Logotipo do Programa Fapesp de Mudanças Climáticas Processo N.08/58160-5 | Período: 01/12/2010 a 30/11/2014