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02/03/2012

Mais do que mudanças climáticas, mudanças globais

Por Maria Teresa Manfredo

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Está crescendo progressivamente o número de cientistas que consideram a dimensão do comportamento humano sobre as mudanças climáticas, isto é, consideram que para se entender as mudanças ambientais atuais, é necessário considerar o fator humano que desencadeia tal processo. Essa noção é fundamental para a compreensão dos problemas ambientais de hoje, defende o antropólogo Emílio Moran, que é diretor do Centro Antropológico para Treinamento e Pesquisa em Mudanças Ambientais Globais da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

Moran destaca que, no caso dos Estados Unidos, políticos da extrema direita republicana têm usado pesquisas científicas distorcidas para justificar a falta de apoio a tentativas de reduzir as emissões de carbono. Tais pesquisas alegam que as mudanças ambientais em curso são fruto de uma tendência natural, geológica da Terra. Assim, de acordo com essa visão, o comportamento humano influenciaria pouco as mudanças climáticas atuais.

Contrário a essas posições, Moran afirma que para mais do que mudanças climáticas, estamos inegavelmente passando por um período de mudanças globais. “São mudanças antropogênicas e naturais, biofísicas e socieconômicas com impactos na temperatura, na biodiversidade. São reais, estão ocorrendo agora, de maneira acelerada. E são efeitos da atividade humana.”, argumenta.

Esse quadro representaria um desafio a mais no campo da já desafiadora pesquisa interdisciplinar em Ambiente e Sociedade. “É necessário conectar metodologias das ciências biofísicas e sociais para ter uma ciência integrando ambiente e sociedade”, disse Moran, na aula inaugural “Por uma ciência integrada das interações Ambiente e Sociedade”, apresentada em 29 de fevereiro, como parte do programa de pós-graduação em Ambiente e Sociedade do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam), da Unicamp.

Na palestra, o antropólogo usou da experiência de quem teve uma formação essencialmente multidisciplinar e já esteve à frente de projetos internacionais como o Global Land Project (GLP) e o Land Use and Land-Cover Change Program (LUCC) - que analisam como as atividades humanas vêm alterando os processos biológicos, químicos e físicos do planeta. Destacou que pesquisas de sucesso na área de Ambiente e Sociedade dependem de equipes interdisciplinares; da consideração de um espaço temporal de longo prazo (justamente para compreender as mudanças ao longo do tempo); da delimitação de objetos marcadamente espaciais, pois, entendendo-se bem casos específicos, será possível realizar generalizações bem fundamentadas.

Mitos e realidades

Na aula inaugural, Moran chamou atenção para o que chama de mitos que são lançados sobre mudanças ambientais. Seriam hipóteses explicativas equivocadas, resultantes, muitas vezes, de pesquisas que não consideram a interdisciplinaridade e amplitude da questão.

Um desses mitos seria a ideia de que a intensificação agrícola e seus impactos ambientais são fruto direto do crescimento populacional. Moran esclarece que tal realidade é resultado, sobretudo, das mudanças tecnológicas, de questões mercadológicas e de capital e da globalização.

Outro mito citado por Moran seria a explicação de que os principais motivos para o desmatamento nas áreas tropicais são o crescimento populacional e a pobreza. Utilizando exemplos do caso brasileiro da Amazônia nos últimos quarenta anos, bem como o caso de Indiana (EUA), o antropólogo defende que políticas de desenvolvimento, expansão e colonização, bem como a extração de madeira é que seriam os principais motivos para o desmatamento de tais áreas.

A solução de problemas ambientais depende da mudança do nosso padrão de consumo. `Temos de descarbonizar economia`, brinca com as palavras o antropólogo, ao tratar da questão de reduzir o uso do carbono em nossa sociedade.

Para ele, não devemos esperar que o sistema mude; devemos começar mudando nossos hábitos pessoais e domésticos. Agir localmente para mudar o comportamento de bairros e comunidades, desencadeando, assim, mudanças estruturais. `O futuro depende de nossas decisões`, destaca.

Professor visitante

O antropólogo Emílio Moran ministrará um curso este semestre no Programa de Pós-gradução em Ambiente e Sociedade, a convite da coordenadora do Projeto Clima, Dr. Lúcia da Costa Ferreira.

O Projeto Clima do Nepam e Núcleo de Estudos de População (Nepo), ambos da Unicamp, é um projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo (Fapesp), que tem por objetivo compreender como as dinâmicas demográficas e sociais interagem com as dinâmicas ecológicas, numa região de alta vulnerabilidade ambiental – o litoral de São Paulo – em um contexto de mudança climática global.

Nascido em Cuba e vivendo nos Estados Unidos desde os 14 anos, Emílio Moran começou a enveredar pelas ciências naturais no início da década de 1970, durante o doutorado na Universidade da Flórida, quando estudou os impactos da Transamazônica para a floresta e para os migrantes que vieram de todo Brasil para Amazônia.


Fonte:ComCiência



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