A pobreza é multidimensional, afirma Ana Fonseca durante Fórum Permanente na Unicamp
Sílvio Anunciação. Fotos: Antonio Scarpinetti - Edição das imagens: Everaldo Silva
[13/10/2011] Nenhuma política pública pode cumprir suas funções finalísticas isoladamente. Ana Maria Medeiros da Fonseca fala com a propriedade de quem coordena, atualmente, uma das maiores políticas públicas do país, com um público-alvo de 16,2 milhões de brasileiros. O Plano Brasil Sem Miséria do Governo Federal, coordenado pela pesquisadora que também faz parte do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Universidade, tem articulado suas ações, segundo Fonseca, num pacto com as esferas federais, estaduais e municipais de todo o país.
“A pobreza atende por muitos nomes. Uma pessoa tem insuficiência de renda, mas tem também acesso precário à água, insegurança alimentar e nutricional, formas precárias de inserção no mercado de trabalho e analfabetismo. A pobreza não se reduz a uma questão de transferência de renda. A pessoa pode ter dinheiro no bolso e continuar pobre por privação de bem-estar social. É essa a maneira que enxergamos para dizer que a pobreza é multidimensional”, afirmou Fonseca.
Ainda segundo ela, há uma crítica bastante difundida no país de que os programas sociais do governo, como as políticas de transferência de renda, não têm porta de saída, ou seja, “de que damos o peixe e não ensinamos a pescar”. “Por trás disso há um enorme preconceito com as pessoas pobres. Nós não temos nenhuma objeção para que vocês aqui tenham bolsas de iniciação científica, bolsas de mestrado, bolsas de doutorado, apoio a congressos e seminários. Isso parece que está tudo bem. Agora, quando se trata das pessoas mais pobres do Brasil há um enorme preconceito como se a pobreza fosse um problema moral. A pobreza envergonha sim, a nós brasileiros que não conseguimos tirar essas pessoas dessa situação. As pessoas pobres não são culpadas da sua pobreza”, provocou.
A secretária extraordinária para Superação da Extrema Pobreza, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), esteve na Unicamp para participar do Fórum Permanente de Meio Ambiente e Sociedade, organizado pela Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), Núcleo de Estudos e Pesquisas de Alimentação (Nepa) e Nepp. O evento, aberto na manhã desta quinta-feira (14) no Centro de Convenções, tratou do combate à extrema pobreza e da segurança alimentar.
O coordenador do NEPA, Walter Belik, um dos responsáveis pela formulação do Programa Fome Zero em 2001, explicou que o Fórum atualiza pesquisas realizadas na Unicamp em torno deste tema. “O Governo Dilma lançou este programa de combate à miséria e era importante a gente interagir com este tipo de iniciativa. Houve um avanço muito grande na redução da pobreza, das desigualdades sociais, mas ainda há um público que está na base da pirâmide que ainda não está sendo coberto por qualquer outra política social”, avaliou. Belik explicou que a Unicamp, através do Nepp e Nepa, tem estudos nesse sentido. “Nós vamos discutir o que temos estudado para as áreas urbanas metropolitanas, dada a atenção de serviços básicos. Iremos também mostrar os estudos nas áreas rurais e sua ligação com a agricultura familiar e de emprego e renda. Aproveitamos também o Fórum para fazer o lançamento da 3ª edição da Tabela de Composição de Alimentos”, revelou.
A Tabela, desenvolvida na Unicamp sob coordenação do professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Jaime Amaya Farfan, traz mais de 100 alimentos novos em sua composição em relação às edições anteriores. “O rótulo que vem no alimento comercializado no Brasil contém informações nutricionais que foram desenvolvidas na Unicamp através desta Tabela. Antes da Tabela, o rótulo dos alimentos continha informações que eram copiadas de tabelas norte-americanas e européias. E os nossos alimentos são diferentes. É importante para o consumidor que saiba o que está comendo”, frisou Belik.
A coordenadora do Nepp, Carmen Cecília de Campos Lavras, disse que a produção da Unicamp é importante para o desenvolvimento de temas relacionados à pobreza e segurança alimentar. “Com este Fórum, nós temos a oportunidade de trabalhar com gestores públicos do MDS. Além disso, a Unicamp vem contribuindo de várias formas com suas pesquisas, seja analisando as políticas públicas; seja formando profissionais para atuarem nestas áreas ou mesmo atuando numa relação mais direta com a sociedade, contribuindo com o desenvolvimento de projetos sociais voltados ao combate da pobreza”, considerou.
Também participaram da abertura do evento, Carmen Zink Bolonhini, da CGU; Gláucia Pastore, coordenadora-associada do NEPA e docente da FEA e José Tadeu Jorge, ex-reitor da Unicamp e docente da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri).
Fonte:Portal da Unicamp