Evento internacional discute o papel do etanol e suas perspectivas para 2020
Por Flávia Gouveia Especialistas, lideranças empresariais e autoridades governamentais reuniram-se no Ethanol Summit 2013, realizado em São Paulo nos dias 27 e 28 de junho, para discutir o papel do etanol e suas perspectivas para 2020. Lançado em 2007 pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), o Ethanol Summit é um evento bienal que tem como foco o etanol e os produtos derivados da cana-de-açúcar. Nesta última edição foram quatro plenárias e cinco salas temáticas simultâneas, com os temas Sustentabilidade, Mercados e Investimentos, Tecnologia e Mobilidade, Futuro e Políticas Públicas.
Nas discussões, uma crítica frequente dirigiu-se ao atual sistema de preços de combustíveis, visto como desequilibrado em função dos subsídios governamentais para manter relativamente baixo o preço da gasolina e, assim, conter a inflação. Nesse sentido, questões de natureza regulatória também tiveram destaque, "pois são o que vai garantir a competitividade dos renováveis frente aos fósseis", afirmou Elisabeth Farina, presidente da UNICA.
Para alavancar o mercado de etanol, considerado uma energia mais favorável ao meio-ambiente, medidas diversas foram debatidas. Entre elas, as novas tecnologias, em especial o etanol de segunda geração, proveniente da celulose do bagaço da cana, bem como de outros resíduos vegetais. Assuntos controversos, como a mecanização da colheita e a segurança alimentar, fizeram parte das discussões.
Segundo Farina, fóruns como o Ethanol Summit oferecem uma excelente oportunidade para o debate de temas como o acesso aos benefícios socioambientais gerados pelo setor e seus aspectos regulatórios, além de permitir uma interação entre os diversos agentes, "o que contribui para uma coordenação entre os setores público e privado, e também entre os diferentes países".
Mudanças climáticas
As alterações climáticas e os eventos meteorológicos extremos relacionados emergem na agenda internacional como um dos mais importantes temas no âmbito econômico e de segurança. Em 2009, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, realizada em Copenhagen, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) da ordem de 36 a 38%.
Farina lembrou no evento que os problemas climáticos não respeitam fronteiras nacionais. Assim, “as políticas de energias renováveis deveriam ser globais, para que a cooperação reduza os riscos em situações localizadas de quebras de safra”, afirmou a presidente da UNICA.
A importância do setor sucroenergético para a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) foi discutida em um dos painéis do Ethanol Summit. Luiz Augusto Horta Nogueira, professor titular do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), ressaltou que a PNMC desenhada em 2009 indica a agroenergia da cana como componente importante, entre outras ações (como a mudança do uso de solo e a redução do desmatamento). Para ele, o retrocesso do Brasil no cumprimento das metas de redução de GEE está relacionado com a política de preços do governo. “A agroindústria canavieira apresenta um grande potencial para a redução de emissões de GEE, mas faltam políticas energéticas consistentes e definições do governo para permitir a expansão dessa indústria e o cumprimento das metas”.
Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Eduardo Assad, mantidas as condições de crescimento quase inercial do setor desde 2008, a produção brasileira de etanol atingirá 26 bilhões de litros em 2020, 6 bilhões de litros a mais que hoje. “Isso representa somente 18% das metas de redução de 60 milhões de toneladas de CO2 equivalente estabelecidas em Copenhagen e tornadas lei”. O pesquisador defende, porém, que com um crescimento de quatro milhões de hectares, a produção do biocombustível que emite quase 10 vezes menos CO2 que a gasolina chegaria em 2020 a 63 bilhões de litros. “Isso significa que podemos atingir facilmente as metas de Copenhagen só com a emissão evitada proveniente do etanol. Na verdade, atingiríamos um valor mínimo de 140% das metas”, enfatizou. Assad afirma que esse crescimento está amparado pelo Código Florestal e que as áreas já alteradas representariam quatro milhões de hectares adicionais. “Segundo o zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar, foram encontrados 40 milhões de hectares para expansão da cana, mas só queremos quatro. Essas novas terras poderiam situar-se em Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, áreas com alta condição de crescimento”, apontou.
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério (MME), Altino Ventura Filho, afirmou que o Brasil está em busca de uma economia com baixo carbono, reconheceu que o setor está enfrentando dificuldades e disse que a resposta do investidor depende de políticas energéticas adequadas. “As dificuldades são desafios. A importância do setor sucroenergético direcionará as políticas e o governo não vai deixar essa fonte se acabar”. Participaram também da palestra o engenheiro florestal, Tasso Azevedo, consultor em sustentabilidade, e o diretor do Climate Policy Initiative (CPI), Juliano Assunção.
Mais informações em: http://www.ethanolsummit.com.br
Por Flávia Gouveia, do Projeto AlcScens – Unicamp.
Fonte:AlcScens